O Instituto Santos Dumont (ISD) realizou, entre os dias 14 e 15 de outubro, um momento de integração de médicos e profissionais da área da saúde, como fisioterapeutas, que compõem as equipes que atuam no “Fortalecimento do cuidado às crianças com sequelas urológicas relacionadas à Síndrome Congênita associada ao vírus Zika (SCZ)”. O encontro teve a participação de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e do próprio ISD, através do preceptor médico urologista Rafael Pauletti Gonçalves, que atuará como mediador, além dos profissionais que atuam no projeto através do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), em Macaíba.
O projeto é coordenado pela pesquisadora Lúcia Maria Costa Monteiro, da Fiocruz, e executado pelo Instituto da Mulher, Criança e Adolescente Fernandes Figueira (IFF), vinculado à Fundação. O tipo de estudo adotado é a pesquisa clínica, que tem como centros participantes o Instituto Professor Joaquim Moreira Neto (Ipesq), em Campina Grande (PB), e o Instituto Santos Dumont (ISD), em Macaíba (RN). A partir do projeto, há a perspectiva da criação de uma rede nacional com órgãos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS), priorizando os Estados com maior número de casos de Síndrome Congênita do Vírus Zika no Brasil com o acompanhamento de cortes de pacientes (grupo de pessoas utilizado em estudos ou investigações). Essa nova fase do estudo poderá servir de ponte para futuros projetos a respeito da bexiga neurogênica, uma das linhas de pesquisa do ISD, bem como o Parkinson e a mielocele.
“Essa é a segunda etapa do projeto. A primeira etapa foi criar três centros para realizar atendimento das crianças com síndrome congênita do zika focado, principalmente, na bexiga neurogênica. Há também o objetivo de desenvolver e capacitar esses três centros, que são: o Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, o Instituto Professor Joaquim Amorim Neto (Campina Grande) e o Instituto Santos Dumont (Macaíba). Nesta segunda fase do projeto, que é a atual, o objetivo é dobrar o número de centros, com a inclusão da Universidade de Pernambuco, a Universidade Federal do Maranhão e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ. Também temos outros objetivos do projeto que são as trocas de informações, principalmente, da síndrome congênita do zika na bexiga neurogênica, onde estamos descobrindo e começando a entender como funciona, como irá se comportar com o desenvolvimento dessas crianças”, destaca o preceptor médico urologista do ISD, Rafael Pauletti Gonçalves.
De acordo com ele, a síndrome congênita do vírus zika diminuiu bastante, embora ainda existam casos sendo notificados. Não se sabe como as crianças que nasceram com essa condição irão evoluir e qual será o comportamento da bexiga e se isso irá refletir na qualidade de vida delas. Hoje, conforme dados da Fiocruz, existem cerca de 2.800 crianças com SCZ no Brasil, mas somente 7% delas dispõem de registro histórico sobre o cuidado urológico. “Foi o primeiro encontro entre os médicos desses centros que realizam estudo urodinâmico para avaliar a maneira como é feito o exame. Iremos, discutir um protocolo que se possa implementar na realização dos novos exames, como o tipo de sonda, colocação de sonda, achados, o que cada um tem achado e interpretado, como se trabalhará com esse dado e como irá ajudar a melhorar o tratamento”, explica Rafael Pauletti Gonçalves. Ele aponta que novas capacitações serão realizadas com equipes de enfermagem e fisioterapia, por exemplo, para adequação ao correto manejo de sonda com as famílias, por exemplo, e definição da fisioterapia adequada aos pacientes com a condição.
Os objetivos da capacitação são: discutir os achados urodinâmicos dos casos avaliados; padronizar as técnicas da realização do estudo urodinâmico; elaborar um protocolo de realização do estudo urodinâmico para o projeto; aumentar e compartilhar a experiência do grupo com relação à realização e interpretação do estudo urodinâmico.
Entenda a SCZ
A Síndrome Congênita associada ao vírus Zika (SCZ) caracteriza-se por um conjunto de alterações na formação das estruturas do corpo, principalmente do Sistema Nervoso Central. Estas alterações, e suas sequelas, vem sendo cada vez mais conhecidas, graças a esforços conjuntos de gestores e pesquisadores em saúde. No entanto, existem vários desafios relacionados à vigilância da SCZ que dependem de avaliações críticas dos procedimentos em curso e das novas evidências científicas; da capacitação dos profissionais envolvidos nas três esferas de gestão do SUS e da garantia da sustentabilidade das ações de vigilância e atenção à SCZ de forma integrada.
Entre as morbidades relacionadas à síndrome está a bexiga neurogênica (BN), uma alteração no funcionamento da bexiga que quando não diagnosticada e tratada adequadamente pode levar a um comprometimento de todo o sistema urinário, aumentando o risco de infecção urinária de repetição e lesão renal, além de causar distúrbios de micção incluindo a incontinência urinária crônica.
Existem no Brasil cerca de 2.800 crianças com SCZ e só existe informação sobre o cuidado urológico em 7% delas. É possível que a grande maioria de pais, profissionais e gestores ainda desconheça a importância da investigação do trato urinário nestes pacientes e que 93% das crianças estejam perdendo a janela de oportunidade de reverter alguma sequela urológica relacionada ao desenvolvimento da síndrome.
Fonte: Tribuna do Norte