Criptorquidia, ou testículos não descidos, ou a ausência de um ou dos dois testículos na bolsa testicular (saco escrotal) é uma alteração genital muito comum. Ela pode ocorrer em até 4% das crianças nascidas a termo e em até 45% nos meninos nascidos prematuramente. É caracterizada quando um (unilateral) ou os dois testículos (bilateral), que são formados dentro do abdômen durante a vida intrauterina (fase fetal), não conseguem completar seu caminho até a bolsa testicular.
O que causa especificamente essa alteração ainda não é bem esclarecido, mas há relatos científicos dizendo que ela pode resultar de diversos fatores ambientais durante a gestação e fatores genéticos. Entre as causas mais consistentemente associadas à criptorquidia podemos citar: prematuridade ao nascimento e baixo peso ao nascimento para idade gestacional.
O criptorquidismo pode ser dividido em:
- a) congênito: quando, ao nascimento, não se diagnostica um ou os dois testículos na bolsa testicular.
- b) adquirido: quando, após o nascimento, com testículos adequadamente posicionados previamente, um ou os dois testículos são diagnosticados como criptorquídicos, não sendo mais observados no escroto.
O diagnóstico inicial desse problema é essencialmente clínico, ou seja, pode ser detectado através de uma história bem coletada e um exame físico simples, porém minucioso. Preferencialmente o exame físico é realizado com a criança em pé e deitada, avaliando a posição, mobilidade, volume testicular e outros possíveis achados associados, tais como hérnias (defeitos na parede abdominal), hidrocele (acúmulo de líquido envolvendo os testículos), tamanho do pênis e posição do meato uretral (orifício por onde sai a urina).
Os testículos criptorquídicos podem ser palpáveis em até 80% das vezes e geralmente se encontram ao longo do provável caminho entre o abdômen e a bolsa testicular. Nos casos nos quais os testículos não são palpáveis, 50-60% das vezes eles se encontram dentro da cavidade abdominal e procedimentos mais complexos para o diagnóstico e tratamento são necessários.
Infertilidade e câncer
Há também outras preocupações relacionadas ao fato do mal posicionamento dos testículos. A fertilidade, ou seja, a capacidade de produzir espermatozoides em quantidade e qualidade suficientes durante a ejaculação, nos meninos com diagnóstico de testículos não descidos pode estar comprometida. Isso devido a múltiplos fatores relacionados às células responsáveis pela produção de espermatozoides e testosterona, dentro dos testículos.
Pacientes com apenas um testículo não descido, apesar de terem uma taxa de fertilidade menor, apresentam taxas semelhantes de paternidade (capacidade de ser pai) quando comparados com pacientes com os dois testículos na posição adequada.
Em contrapartida, os meninos que apresentam criptorquidia bilateral têm tanto a taxa de fertilidade quanto a de paternidade comprometidas. Naqueles pacientes com testículos não descidos bilateralmente e não tratados, a alteração nos parâmetros seminais pode chegar a 100%.
Uma outra questão a ser discutida nas crianças com criptorquidia é o risco aumentado de tumor (câncer) de testículo. Nesses pacientes, o risco pode ser de 2 a 5 vezes maior, quando comparados com a população em geral. A hipótese é que nesses pacientes já haja uma predisposição genética para a ocorrência desses tumores testiculares. Após o tratamento cirúrgico é aconselhável explicar os benefícios do autoexame testicular, orientando o paciente quanto à importância de tentar identificar alguma alteração.
Tratamentos
Falando em tratamento, a correção cirúrgica do criptorquidia é a opção de escolha. Porém deve-se esperar até os seis meses de idade, pois há uma chance da descida espontânea do testículo para a bolsa testicular, sem ser realizado nenhum tipo de tratamento.
A cirurgia tem como objetivo, a otimização da função testicular, reduzir e/ou facilitar o diagnóstico de tumores (câncer) testiculares, promover benefícios cosméticos e evitar complicações como hérnias e torções testiculares. Ela deve ser realizada preferencialmente entre os 6 e 12 meses de idade, não devendo passar em hipótese alguma dos 18 meses de vida.
Para testículos palpáveis, a cirurgia consiste no adequado posicionamento do testículo na bolsa testicular, podendo ser feita tanto por via inguinal quanto por via escrotal, dependendo do posicionamento do testículo criptorquídico.
Nos casos de testículos não palpáveis, é preferível à via abdominal por videolaparoscopia, para a correção dessa doença. Nos pacientes em que o diagnóstico de criptorquidia unilateral com testículo do outro lado normoposicionado é feito na fase pós-puberdade, preconiza-se a realização de orquiectomia (retirada) do testículo afetado.
A terapia hormonal não é rotineiramente utilizada para o tratamento devido à falta de estudos mostrando a sua eficácia.
Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia